O início da vida dos polvos não é nada feliz: desde cedo estão condenados a serem órfãos. Após um polvo fêmea colocar seus ovos, ela simplesmente para de se alimentar e começa a se automutilar. Nesse processo, ela arranca sua pele e morde as pontas de seus tentáculos até morrer. Ou seja, quando o jovem polvo está saindo de seu ovo sua mãe já morreu. E dentro de poucos meses, seu pai também estará morto. 

Desde a década de 1940, cientistas estão intrigados com a curta e sombria vida dos polvos após a reprodução. Há alguns anos, pesquisadores até levantaram a hipótese de que o cruzamento, de alguma maneira, ligava o “botão de autodestruição” nesses animais marinhos. Porém, até agora ninguém fazia a menor ideia de como isso acontecia.

Recentemente, no entanto, pesquisas conseguiram entender como o acasalamento muda diversas vias bioquímicas com base no colesterol de uma série de hormônios dos polvos fêmeas, e como isso afeta o seu comportamento.

(Fonte: Shutterstock)(Fonte: Shutterstock)

Alterações hormonais

O estudo em questão foi realizado pelo professor especializado em biologia da Universidade de Washington, Z. Yan Wang. Conforme os dados levantados, quando os polvos fêmeas colocam seus ovos, uma intensa mudança em seus níveis de hormônios esteroides acontece como resultado dessa alteração drástica, as fazendo arrancar pedaços de seus corpos até a morte.

É interessante observar que os cefalópodes são portadores do maior sistema nervoso central. Além disso, são animais que estão entre os primeiros lugares do ranking de criaturas sem espinha com maior massa cerebral em relação ao corpo.

Segundo o estudo do professor Wang e sua equipe, o comportamento bizarro de parar de se alimentar e começar a se automutilar está relacionado à glândula ótica. 

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Nos polvos, esse órgão é parecido com a glândula pituitária encontrada nos mamíferos. As mudanças dramáticas sofridas pela glândula ótica dos polvos fêmeas as leva a produzir mais progesterona, pregnenolona e 7-DHC, entre outros compostos químicos após colocarem os ovos.

Para os pesquisadores, existem semelhanças significativas entre as funções dessas moléculas de esteroides nos seres vivos do reino animal, incluindo animais cefalópodes e vertebrados.

Estudos anteriores feitos com outros animais e até com seres humanos já havia demonstrado que mudanças nas transformações químicas do colesterol podem provocar sérias consequências em termos comportamentais e de duração da vida. 

(Fonte: Shutterstock)(Fonte: Shutterstock)

Por exemplo, níveis elevados do zoosterol 7-DHC nos seres humanos é considerado um marcador de uma condição genética chamada de síndrome de Smith-Lemli-Opitz (SLOS), sendo que sua causa tem relação com uma mutação que afeta a enzina que converte o 7-DHC no lipídio colesterol.

Crianças com esse transtorno experimentam graves alterações de desenvolvimento e comportamentais, incluindo a automutilação repetitiva que nos faz lembrar do comportamento do polvo fêmea em seus momentos finais de vida

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