Entre 1979 e 1990, Margaret Thatcher foi a primeira-ministra do Reino Unido, se tornando uma figura política histórica que atraiu uma legião de apoiadores e opositores devido às suas campanhas políticas.
Enquanto alguns dizem que ela apenas destacou as divisões que já existiam na sociedade britânica da época, outras a condenaram por ter, por exemplo, presidido as taxas de juros de 15%; votado contra o relaxamento das leis do divórcio; apoiado a retenção da pena capital; e destruído a indústria manufatureira da Grã-Bretanha, levando ao desemprego em massa.
Mas antes de ser chamada de “a Dama de Ferro”, Thatcher ganhou a alcunha de “Ladra de leite”.
O problema dos leites
(Fonte: Wikimedia Commons)
Em 1946, durante o governo de Winston Churchill e no final da Segunda Guerra Mundial, foi aprovada a Provisão de Regulamentos de Leite Gratuito, sob a Seção 49 da lei de 1944, cujo objetivo era fornecer leite escolar gratuito para todas as crianças menores de 18 anos, como um impulso nutricional extra em um momento em que a guerra havia tornado os alimentos tão escassos e racionados.
Portanto, diariamente, creches e escolas recebiam engradados com garrafas de 189ml para abastecer a dieta dos alunos. Mas 30 anos depois, em 1970, o então primeiro-ministro britânico Edward Health, diante a uma crise econômica que devastava o país, pediu para que todos os seus ministros encontrassem cortes orçamentários em seus departamentos.
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No ano seguinte, Thatcher, então ministra da Educação, obrigada a fazer uma economia de 9 milhões de libras, optou por cortar o leite das escolas como saída, afirmando que ele era muito caro. Custando cerca de 14 milhões de libras por ano, a ministra adotou uma legislação que limitava a bebida para crianças com menos de 7 anos.
Isso porque ela achava mais interessante gastar dinheiro construindo prédios e distribuindo livros, porque, para ela, merenda escolar era um serviço social que não tinha nada a ver com educação. Thatcher explicou sua decisão encontrando uma solução ao dizer que as mães poderiam fornecer o leite para seus filhos ou dar 10 centavos por semana para que eles o comprassem para levar para a escola.
Três anos antes, o Partido Trabalhista já havia cortado o leite para alunos do ensino médio — o que já havia sido controverso o suficiente —, mas Thatcher viu sua decisão como uma extensão disso.
A mulher mais impopular do país
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O resultado foi um verdadeiro levante público contra a imagem de Thatcher, chamada de ladra de leite e denominada “a mulher mais impopular do país” pelo jornal The Sun, então muito apoiado pelos parlamentares trabalhistas.
Os alunos ficaram desgostosos com a decisão porque o leite era entregue de acordo com a temperatura do dia, aqueles que tiveram dinheiro para comprá-lo todos os dias tiveram que consumi-lo coagulado em tempos de calor.
Thatcher foi ostensivamente perseguida por protestantes raivosos, tanto que só conseguia visitar escolas com escolta policial. William Hamilton, um deputado trabalhista da época, disse que a mulher estava se comportando como um “Scrooge de cara pintada”, e Gerald Kauffman disse que ela precisava ter vergonha em, literalmente, tirar comida da boca das crianças.
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Os Arquivos Nacionais divulgaram documentos que mostram que, 19 anos após ter tomado aquela derradeira decisão, Thatcher se arrependeu, ficando horrorizada quando o secretário de Saúde, Ken Clarke, propôs acabar com o leite gratuito para crianças em idade pré-escolar também.
“Não, isso causará uma briga horrível. Tudo por 4 milhões de libras. Eu sei como é, eu passei por isso há 19 anos”, escreveu ela em um bilhete. A ex-primeira-ministra ainda completou que olharia qualquer esquema para economizar 400 milhões de libras, mas não míseros 4 milhões porque não valia a pena.
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