As sufragistas foram um grupo de mulheres que lutaram, na Grã-Bretanha, pelo direito das mulheres ao voto. Consideradas precursoras do feminismo, há hoje uma discussão sobre o que elas pensavam sobre uma pauta controversa: o direito ao aborto.

A polêmica se dá por conta de um artigo que foi publicado em 1869 no jornal Revolution, que era dirigido pelas sufragistas Elizabeth Cady Stanton e Susan B. Anthony. O artigo, que era anônimo, afirmava que o aborto era um “horrível crime de homicídio infantil”, praticado “por aquelas cujas almas se revoltam contra o ato terrível”.

A descoberta deste texto levantou um debate sobre qual seria de fato a opinião das sufragistas sobre o tema. Elas eram a favor ou contra o direito das mulheres ao aborto? Para falar sobre isto, precisamos primeiro entender como os movimentos pró e contra o aborto se constituíram nos Estados Unidos.

A constituição da ideia do aborto 

(Fonte: The New York Times)(Fonte: The New York Times)

O fato é que já se conhecia as práticas abortivas no século XIX. Algumas técnicas usadas para isso eram tomar ervas que pudessem prevenir a gravidez ou induzir o aborto.

A ideia de que precisava haver alguma regulamentação do aborto só começou a difundir nos Estados Unidos com a chegada dos colonizadores europeus. Os britânicos, por exemplo, consideravam legal o chamado “aborto pré-acelerado”, que ocorria quando uma grávida abortava antes que começasse a sentir os movimentos do feto.

Entre as mulheres negras escravizadas, induzir um aborto de uma gravidez resultada de um estupro era uma forma de resistir à escravidão. Tais mulheres inventaram seus próprios remédios e lutaram para impedir que gerassem descendentes também escravizados. Por outro lado, seus donos se opunham à prática, pois significava a perda de mão de obra.

Já no século XIX, os estados americanos começaram a aprovar leis anti-aborto – em parte, pelo medo dos médicos de que fossem condenados pela morte das mulheres que abortavam.

Estados como Connecticut e Nova York passaram a criar restrições mais rígidas sobre procedimentos como o aborto pré-acelerado. Esta ascensão do movimento antiaborto culminou na Lei Comstock, de 1873, que estabeleceu no país todo a proibição de qualquer material usado tanto como contraceptivo quanto abortivo.

Já em 1900, todos os estados americanos criminalizavam o aborto, com poucas exceções legais. Não obstante, este movimento anti-aborto se desenrolava na mesma época em que as sufragistas lutavam pelos direitos das mulheres.

A posição das sufragistas sobre o aborto

(Fonte: Fala Universidades)(Fonte: Fala Universidades)

As sufragistas eram contra o aborto? Esta é uma questão é complexa e não tem uma resposta totalmente segura. No entanto, a verdade é que Susan B. Anthony nunca abordou diretamente o tema.

Deborah Hughes, presidente do Susan B. Anthony Museum and House, disse que este é um falso questionamento. “Na verdade, ela não era nem a favor nem contra, pois os movimentos pró-vida ou pró-escolha são do século XX, e ela era uma pessoa do século XIX”.

O fato é que o direito ao aborto não era uma agenda prioritária para as sufragistas. Estudiosos do tema afirmam que, de certa forma, os defensores da criminalização do aborto “sequestraram” o movimento sufragista para este tema sem provas concretas.

A evidência que se tem são os artigos anônimos publicados no jornal Revolution, mas o fato é que o periódico priorizava o debate de ideias, com textos que defendiam diferentes pontos de vista.

O que os historiadores argumentam, por fim, é que provavelmente haviam sufragistas favoráveis e contra esta questão, que até hoje gera debate.

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