A Peste Bubônica é conhecida como uma das pandemias mais devastadoras da história da humanidade. Alguns registros estimam que entre 1347 e 1352, a peste possa ter matado cerca de 50 milhões de pessoas no continente europeu — o que significaria uma redução de aproximadamente 60% da população europeia na época.
Porém, um estudo recente utilizou dados paleoecológicos para tentar confirmar estes números. O resultado foi apresentado na Nature em fevereiro deste ano e pode sugerir uma nova interpretação do que realmente aconteceu. Embora seja impossível saber realmente quantas pessoas morreram da Peste, o estudo sugere que, enquanto alguns países europeus sofreram muito com a praga, outros escaparam quase ilesos.
O estudo
A pesquisa foi conduzida pelo Instituto Max Planck e avaliou os níveis de pólen fossilizado de diferentes plantas que ficaram armazenados nas regiões onde a peste supostamente teve maior impacto. De acordo com Adam Izdebski, historiador ambiental do Instituto, plantas diferentes criam pólen de diferentes formas, que podem ficar presos em pântanos ou lagos lamacentos.
Como esse pólen fica preservado por centenas de anos, é possível determinar quais plantas estavam produzindo mais pólen durante a época da Peste Bubônica. O objetivo do estudo foi verificar se houve uma mudança significativa nos níveis de pólen de trigo e de outras culturas que demandam práticas agrícolas.
Caso fosse notado um aumento no pólen de plantas que normalmente não são encontradas em terras agrícolas, como árvores e arbustos, poderia indicar um alto número de mortos pela praga. Com menos pessoas, as fazendas ficariam abandonadas e isso iria ser percebido na maneira como o ambiente responde à ausência de humanos.
“Se um terço ou metade da população da Europa morrer dentro de alguns anos, pode-se esperar um quase colapso da paisagem cultivada”, escreveu a equipe de Izdebski para o The Conversation.
Os resultados
Em verde os locais com mais pólens de culturas agrícolas e em rosa os locais onde houve um declínio deste tipo de pólen.
Foram analisadas amostras de pólen fossilizado de 261 locais em 19 países europeus. Das 21 regiões, apenas sete tiveram uma mudança drástica — sugerindo que lá, as pessoas morreram da praga em grande número. Mas em lugares como a Catalunha, no nordeste da Espanha, e a República Tcheca, “não houve diminuição perceptível na pressão humana sobre a paisagem”.
O estudo também observou que na Polônia e no centro da Espanha, o “cultivo intensivo em mão de obra” realmente aumentou. “Isso significa que a mortalidade da Peste Negra não foi universal nem universalmente catastrófica”, explicaram Izdebski e seus coautores. “Se fosse, os registros de sedimentos da paisagem da Europa diriam isso”.
É importante destacar que Izdebski e sua equipe não tem como fazer uma nova estimativa do número aproximado de pessoas que morreram durante a Peste Bubônica, somente com os dados desta pesquisa. O estudo apenas sugere que a peste pode ter sido menos letal do que se acredita, e corrobora com outras pesquisas que indicam que o número de mortos não foi igual em toda a Europa.
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