Que fim levou o mIRC, o ‘dinossauro’ das salas de bate-papo e chats online?

Dando continuidade à série “Que fim levou?”, sobre softwares, marcas, empresas, produtos e serviços que fizeram sucesso no passado, o TecMundo relembra hoje o mIRC, um dos primeiros programas para conversas em tempo real pela internet. Surgido antes do ICQ e do MSN Messenger, ele é considerado o “ancestral” dos mensageiros instantâneos.

Criado em 1995 por Khaled Mardam-Bey, o mIRC é um programa para Windows que funciona como cliente de Internet Relay Chat (IRC). Este protocolo surgiu em 1988, desenvolvido pelo universitário finlandês, Jarkko Oikarinen, que queria adicionar recursos de comunicação ao vivo em redes BBS.

Responsável por introduzir o conceito de salas de bate-papo abertas, o IRC permitia que qualquer pessoa se juntasse à rede, bastando ter um programa específico instalado no computador e uma linha telefônica para se conectar à internet. O mIRC é um desses “softwares cliente”.

Para tornar a BBS da Universidade de Oulu mais funcional, Oikarinen desenvolveu o primeiro servidor IRC. A rede da instituição, que servia para enviar mensagens uma ou duas vezes por dia, passou a permitir conversas em grupo e a oferecer privilégios aos administradores como a expulsão de usuários por mau comportamento.

O surgimento do programa

A primeira rede IRC nasceu quando pessoas de fora do ambiente acadêmico tiveram o acesso liberado, sendo necessária a configuração de outro servidor. Uma nova ampliação aconteceu a partir do momento em que Oikarinen apresentou o conceito a pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos.

Com a divulgação do recurso entre os americanos, o número de servidores e redes cresceu rapidamente, levando à criação de canais que funcionavam como uma versão inicial das salas de bate-papo. Organizados por assuntos, eles suportavam até centenas de usuários, simultaneamente, precedendo os fóruns de discussão online.

Foi neste contexto que nasceu o mIRC, há quase 30 anos, quando Khaled decidiu criar um programa para aproveitar o então novo ponto de encontro virtual para conversar com pessoas de todo o mundo. Bastava realizar o download e instalá-lo no PC.

Ao executar o software, o usuário precisava informar dados como nome e e-mail, criar um apelido (nickname) pelo qual seria conhecido no ambiente virtual e se conectar ao servidor desejado. Na sequência, era possível pesquisar a lista de canais disponíveis e se juntar às conversas.

O que as pessoas faziam no mIRC?

Com o cliente de IRC pronto para funcionar, os usuários podiam realizar uma ampla gama de atividades. Comunicar-se com outras pessoas, participar de conferências em grupo, compartilhar arquivos jogar e até trabalhar remotamente eram algumas delas.

Antecessor das salas de bate-papo, o programa era bastante utilizado para conversar online. Bastava escolher um canal com seu tema preferido (cidades, estilos musicais, softwares, filmes, séries etc), entrar no chat e participar das discussões, usando uma interface rudimentar e diferente das experiências nos mensageiros modernos.

Era possível ter conversas privadas com qualquer um dos participantes, compartilhar a música que você estava ouvindo e subir de status conforme as suas contribuições. Também havia canais dedicados a jogos, como os de perguntas e respostas, que promoviam a diversão online.

Funcionando de maneira parecida com as redes sociais, as salas do mIRC também tinham regras e punições para quem se comportasse de maneira inadequada, seja enviando spam, arrumando brigas ou violando outras normas. Os brigões podiam ser advertidos ou banidos definitivamente pelos administradores, se necessário.

Debandada de usuários

Muito popular entre a segunda metade dos anos 90 e o início dos anos 2000, o clássico software que ajudou a revolucionar a comunicação online começou a perder relevância para outras plataformas com interfaces mais amigáveis e simples de usar. Entre elas, vale citar os já descontinuados MSN Messenger e ICQ.

Esses mensageiros possuíam uma cara mais moderna e eram cheios de recursos para facilitar a troca de mensagens, incluindo o suporte à webcam, atraindo milhões de usuários em todo o mundo. Ao mesmo tempo, as salas de bate-papo convencionais podiam ser acessadas pelo navegador, assim como os fóruns de discussão online.

Além disso, as redes sociais começaram a ganhar força na primeira metade dos anos 2000, com o nascimento do Orkut, do Facebook — e até do Reddit. Elas reuniam muitas das funções encontradas no cliente de IRC e ofereciam novos recursos, fazendo muitas pessoas deixarem o velho programa de lado.

Diante da debandada dos usuários, algumas das principais redes do mIRC foram encerradas, como aconteceu com a Brasnet, em 2007. Uma das mais populares entre os brasileiros, ela chegou a ter 60 mil usuários simultâneos em 2003, quando atingiu seu auge.

O mIRC ainda funciona em 2024?

Com o fim de várias redes e a migração em massa de usuários, muitas pessoas acreditam que o mIRC acabou. Mas isso não é verdade, o programa ainda funciona e recebe atualizações com frequência.

No momento em que este texto é escrito, a versão mais recente é a v7.78, lançada no dia 6 de novembro de 2024 para Windows XP, Vista, 7, 8, 10 e 11. O software possui interface configurável e suporte a listas de amigos, transferências de arquivos, proxy, IPv6, criptografia SSL, sons personalizáveis e mensagens faladas, entre outros recursos.

O mIRC também pode ser usado para criar apps que executam diferentes funções, de comunicações de rede a jogos, e ainda possui muitas salas de discussões, tratando de diferentes temas, mas principalmente relacionados à tecnologia.

Vale lembrar que o programa pode ser testado gratuitamente por 30 dias e, após o período, é necessário comprar a licença de uso por US$ 19,95, o equivalente a R$ 115,10 pela cotação atual.