Não é exagero dizer que o Ryu Ga Gotoku Studio é um dos estúdios mais consistentes da atualidade e um exemplo a ser seguido. Responsável pela franquia Like a Dragon, o time de desenvolvimento não apenas entregou o seu melhor e mais ambicioso jogo no ano passado, Infinite Wealth, como também sempre preenche o calendário de lançamentos com títulos que reaproveitam, na medida certa, os seus trabalhos anteriores – driblando o regime insustentável de longos ciclos de produção nos quais a indústria está se afogando.
Esse é o caso do novíssimo Like a Dragon: Yakuza Pirate in Hawaii, uma aventura bem-humorada que, sem deixar de lado a qualidade dos títulos principais da série, traz mais uma vez Goro Majima, um dos personagens mais queridos pelos fãs, no papel de protagonista após uma década de espera.
Em escopo, este é um jogo que lembra bastante o recente Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name — e não à toa também carrega o subtítulo Gaiden (外伝) na versão japonesa, denotando uma aventura secundária ou anedótica. No entanto, ele se beneficia bastante do trabalho feito em Infinite Wealth e está recheado de conteúdo, com destaque para as divertidíssimas batalhas navais.
Ficou curioso para saber mais e entender como uma mistura tão inusitada entre piratas e máfia japonesa pode dar certo? O Voxel teve a oportunidade de jogar a versão completa antecipadamente, no PC, conta os detalhes a seguir, no review de Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii. Confira:
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Do que se trata Pirate Yakuza in Hawaii?
Antes de mais nada, é importante dizer que o jogo se passa seis meses após os acontecimentos de Infinite Wealth e inclui, sim, spoilers pesados para quem ainda não está em dia com a série. Pela sua premissa maluca, o jogo naturalmente não vai muito além na cronologia, mas ele traz mais contexto e até mesmo algumas consequências do que acompanhamos no jogo anterior – é tudo canônico, afinal de contas.
Tudo começa quando Goro Majima, uma das figuras mais lendárias do submundo japonês, acorda em uma ilha remota do Pacífico após um naufrágio aparentemente sem explicações. Ele é resgatado na encosta por um garoto chamado Noah, que mora nesta pequena ilha com seu pai e irmã, e logo descobre que perdeu completamente suas memórias, sequer lembrando do seu próprio nome ou para onde estava indo.
Como há encrenca por todo canto, não tarda até Majima descobrir que Noah e a sua família têm problemas com piratas arruaceiros. Na tentativa de recompensar a gentileza do garoto, Majima decide se tornar capitão de um navio e promete mostrar a ele a vastidão do mundo, realizando o seu sonho de sair da ilha e partir em uma aventura. A principal motivação é investigar os rumores de um tesouro lendário e muito cobiçado enquanto tenta juntar as peças do quebra-cabeça que levou Majima a perder a memória.
Desta forma, os jogadores reúnem uma tripulação, revisitam cenários como Honolulu, no Havaí, que está totalmente disponível para exploração e com rostos reconhecíveis para recrutar, e desafiam até mesmo um coliseu de piratas em uma ilha sem-lei chamada de Madlantis — lembrando bastante o Castle de The Man Who Erased His Name.
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A narrativa traz tudo o que se espera de um jogo de Like a Dragon: um texto repleto de reviravoltas e momentos bizarros, com um humor afiadíssimo. Os novos personagens apresentados também são carismáticos, com destaque para Masaru, o cozinheiro do navio. Noah, que é sua principal companhia, é um pouquinho irritante por ser a típica criança que acha que sabe de tudo, mas esse sentimento logo passa ao lembrar que ele tem um filhote de tigre chamado… Goro. E que ele jura que é, na verdade, um gato.
Na prática, a história é instigante e divertida — e muito disso é mérito do próprio Majima. Ela também tem um ritmo agradável, levando cerca de 25 horas para ser concluída sem muito rodeio. Mas é claro que os jogos de Like a Dragon brilham mesmo nas atividades secundárias, então aqui também vale a regra: é muito mais proveitoso curtir a aventura de maneira não-linear, explorando no seu ritmo tudo o que o jogo deixa à disposição. Há vários minigames com suas próprias linhas narrativas, surpresas e recompensas, criando um jogo com sistemas bem-amarrados e que fazem valer o tempo do jogador.
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Pancadaria em tempo real e um mar imenso para explorar
Diferente dos últimos jogos principais, Pirate Yakuza in Hawaii traz um combate em tempo real, explosivo e de altíssima velocidade. Majima tem novas técnicas em seu arsenal para lidar com grupos gigantescos de inimigos, incluindo um novo estilo de combate chamado “Cachorro do Mar”, com direito até mesmo a um arpéu e combos aéreos. É muito divertido descobrir as possibilidades — embora leve tempo para se habituar aos botões, que podiam ser mais responsivos.
A longo prazo, o combate pode ficar um pouco repetitivo porque não há tantas melhorias desbloqueáveis que mudem os combos de maneira substancial, mas ele é competente e deve atender o público que estava com saudades dos combates em tempo real e do estilo de luta mais errático do Majima.
Mas é claro que não seria um jogo de piratas se você não tivesse o seu próprio navio, e é aqui que está o grande destaque do título. A jogabilidade, de maneira acertada, pende para o lado arcade da experiência, de modo que o navio tem turbo e é possível fazer “derrapagens” para se posicionar com mais facilidade. O jogador tem total agência para disparar canhões, metralhadoras e até mesmo largar o leme para andar livremente pelo convés e… disparar nos rivais com lança-mísseis.
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A jogabilidade tem bastante profundidade com seu sistema de personalização, quase como se pudesse ser um jogo inteiro à parte. Dependendo de como o jogador organiza sua tripulação, diferentes bônus são concedidos ao seu navio, fortalecendo ataque, resistência e muito mais. Isso serve de incentivo para explorar os cenários com mais atenção e cumprir requisitos para chamar personagens para a equipe.
Muitas vezes, o jogador tem de enfrentar frotas gigantescas e o sentimento de satisfação ao superá-las é indescritível. Dependendo da importância da batalha, ela também se estende ao convés do capitão inimigo para um embate entre tripulações, aumentando o nível de todos os envolvidos em caso de sucesso. Por sinal, é muito divertido como é possível misturar personagens excêntricos.
Há várias ilhas para desbravar pelo caminho, cada uma atuando como uma pequena dungeon para saquear tesouros, e esta é uma das formas mais eficazes de aumentar o seu ranque e ganhar dinheiro. Ao se locomover entre objetivos, o jogo sempre instiga a experimentação dessas atividades. Sem contar que há algo catártico em velejar em alto-mar escutando músicas icônicas da série, como Honolulu City Nights, Koi no Disco Queen e até mesmo Escape From the City, de Sonic Adventure 2.
Conforme o jogador se habitua ao gameplay marítimo, o coliseu de piratas se torna uma atividade ainda mais viciante e satisfatória. No geral, o gameplay de Pirate Yakuza in Hawaii é bastante intuitivo e diversificado, garantindo dezenas e mais dezenas de horas de jogatina caso o usuário queira completar tudo. E olha que ainda nem mencionei os minigames, que são uma mistura de alguns já conhecidos, como o Crazy Delivery, inspirado em Crazy Taxi, com outros inéditos que valem a experimentação. Há sinuca, corrida de kart, jogos de tabuleiro, clássicos de fliperamas, um minigame para destruir barris explosivos com tacadas de basebol, entre outros.
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Já não é novidade à esta altura, mas vale ressaltar que o jogo está com textos totalmente localizados em português do Brasil, deixando a experiência ainda mais acessível para o público brasileiro. Tanto Infinite Wealth quanto The Man Who Erased His Name já estavam muito bem localizados, e isso é importante pela densidade de diálogos que a franquia possui. As conversas são muito divertidas e bem escritas, mas encontrei alguns bugs em que termos específicos apareciam em espanhol — principalmente na apresentação de inimigos, antes de dar início a um combate.
No que diz respeito aos visuais, o jogo é muito próximo daquilo que foi apresentado em Infinite Wealth e é facilmente um dos mais bonitos da franquia. Claro, é possível encontrar discrepâncias, especialmente nos modelos de personagens durante as missões secundárias, mas não é nada com o que os fãs já não estejam acostumados. Os testes aconteceram na versão de PC e o desempenho também foi satisfatório, incluindo suporte a tecnologias como DLSS e FSR.
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Vale a pena?
Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii segue o lema da série de não ter medo de ser videogame, algo que devia voltar a ser prioridade na indústria. O título pega o que há de melhor na fórmula da franquia, construindo uma base sólida e familiar, para então despender esforços em entregar sistemas de combate e exploração marítima muito bem-amarrados e contagiantes. Além disso, a jogatina está recheada de boas gargalhadas de modo que o jogador termina querendo mais.
Embora a narrativa seja simples, ela consegue manter o jogador interessado nos seus desdobramentos. O carisma de Goro Majima e do seu elenco de personagens também tem grande valor para segurar as pontas ao longo da campanha. Já nas primeiras horas, o jogador está totalmente convencido e entregue à premissa maluca de misturar Yakuza e piratas. E convenhamos: esse não é nem de longe o contexto mais maluco que um jogo da série já introduziu.
Se você estiver esperando mais desdobramentos do que aconteceu em Infinite Wealth, especialmente após o seu final, o jogo não vai muito além, então é importante segurar as expectativas. Ainda assim, há alguns aperitivos que podem despertar a curiosidade dos fãs pelo que vem a seguir.
Este é um jogo que tem o seu valor muito além da campanha principal: há muito conteúdo divertido para explorar e o ideal é curtir sem pressa. A melhor forma de jogar os títulos de Like a Dragon é degustando diferentes atividades, pois sempre haverá alguma surpresa ou recompensa à espera. Talvez o preço de lançamento seja um impeditivo considerando a realidade brasileira, mas Pirate Yakuza in Hawaii é um prato cheio para os fãs da série ou para quem quer um jogo com bastante conteúdo diversificado para passar o tempo.
Nota do Voxel: 85
Pontos positivos (prós):
- Recursos reaproveitados para garantir consistência da franquia;
- Personagens carismáticos;
- Atividades secundárias divertidas e recompensadoras;
- Combate naval viciante e fácil de entender;
- Excelente localização em português do Brasil, com bastante humor.
Pontos negativos (contras):
- Combate corpo a corpo podia ser mais variado;
- Os menus são um pouco confusos.
A análise de Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii foi realizada com uma chave de review fornecida pela assessoria de imprensa da Sega. O jogo completo estará disponível em 21 de fevereiro com versões para PC, PS4, PS5, Xbox One e Xbox Series X|S.
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