Pessoas que, segundo as crenças espiritualista, possuem a capacidade de intermediar a comunicação entre os vivos e os espíritos dos mortos, os médiuns levam vidas ambíguas, dependendo muito da cultura, da época e do contexto religioso ou social em no qual estão inseridos.

Se por um lado, são altamente respeitados como guias espirituais, curadores ou líderes religiosos, por outro sofrem problemas emocionais, físicos e sociais como consequência de suas experiências mediúnicas. Dentro do próprio espiritismo kardecista, por exemplo, a característica é vista como um compromisso de serviço, sem nenhum benefício material.

Aceita em 2022, uma pesquisa conduzida pelo Instituto de Psiquiatria da USP e pelo Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) apresentou a experiência mediúnica de uma forma inédita. Não mais uma combinação de fatores psicológicos, sociais e espirituais, mas um imperativo genético: a forma como os genes dessas pessoas codifica proteínas (exoma).

O que diz a pesquisa que relaciona mediunidade e genética?

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Estudo afirma que mediunidade é consequência de variações genéticas. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Publicada eletronicamente em janeiro de 2025 na Revista Brasileira de Psiquiatria, a pesquisa analisou o exoma de 54 médiuns experientes e os comparou com seus parentes de primeiro grau que não possuem a habilidade mediúnica. Os resultados apontaram 33 genes com variações específicas nos médiuns, mas ausentes em seus familiares, afirma o estudo.

Para selecionar os médiuns, os pesquisadores estabeleceram algumas características cumulativas, como ter pelo menos 10 anos de experiência, na prática e realizar o trabalho mediúnico sem receber benefícios materiais. Em seguida, foi realizado o sequenciamento completo do exoma dessa população, e também de 53 parentes de primeiro grau não médiuns.

Os resultados sugeriram que os médiuns estudados possuem variações genéticas únicas: foram identificadas somente neles 15.669 variantes, com probabilidade de impactar a função de 7.269 genes. 33 deles foram alterados em pelo menos um terço de todos os médiuns, mas em nenhum dos parentes. Grande parte dessas alterações (43,9%) está relacionada ao sistema imunológico e processos inflamatórios, sugerindo uma base biológica para a mediunidade.

Isso significa que os genes estão relacionados à mediunidade?

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Para o estudo, médiuns são pessoas que se autodeclaram como tal. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Por incrível que pareça, essa questão não foi respondida, menos pela genética em si, e mais pela ausência de uma definição objetiva e científica do que seja “médium”. Apresentados no próprio artigo como “indivíduos que alegam ter a capacidade de perceber, comunicar-se ou ser influenciados por pessoas falecidas”, isso significa que eles são o que eles dizem que são, ou seja, a definição é baseada no autorrelato.

A falta de comprovação científica se estende também a outras características, como a alegação de comunicação com falecidos ou entidades não físicas. Afinal, ver, ouvir ou sentir coisas que mais ninguém percebe, na ausência de um transtorno mental que justifique essas experiências, é de difícil comprovação.

Nesse sentido, os critérios práticos adotados pelos autores para identificar médiuns são parcialmente arbitrários. Isso porque qualquer estudo que buscas associações genótipo-fenótipo precisa ter uma definição clara e mensurável do fenótipo (característica). Isso seria como analisar pessoas que se autodeclaram felizes no Instagram, e afirmar que encontramos os genes da felicidade.

Principais problemas encontrados na pesquisa sobre mediunidade genética

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Estudos científicos não podem ser orientados de forma a confirmar uma crença prévia. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Além do citado problema de definição operacional (o que é mediunidade?), há também um problema de circularidade, pois o estudo busca encontrar bases genéticas para uma coisa que ele não consegue definir de forma objetiva. Como falar em aquecimento global sem ter um termômetro ou desconhecer os gases de efeito estufa.

Sem ter como validar objetivamente o que é realmente ser médium, a pesquisa também apresenta um problema de validação, além de um grave viés de seleção dos participantes. Como os próprios médiuns se autoidentificam, quem garante que, entre o grupo controle (parentes), não existem pessoas que já tiveram experiências mediúnicas?

Finalmente, o que se verifica nesse estudo é um problema comum conhecido como “viés confirmatório na ciência”, que ocorre quando pesquisadores (consciente ou inconscientemente) desenham estudos ou interpretam resultados para confirmar suas crenças prévias. Não há como negar que a fé é um elemento importante da experiência humana, mas, ao fazer ciência, temos que seguir sempre o método científico.

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