Mesmo que as referências ao uso de drogas na história da humanidade sejam escassos, eles existem e mostram que as sociedades antigas também enfrentaram problemas relacionados ao uso abusivo dessas substâncias, em especial o ópio.
Se registros de consumo são raros, não se pode dizer o mesmo sobre o comércio internacional de drogas. Arqueólogos já encontraram dados que comprovam que as rotas de distribuição de narcóticos, como o cânhamo, já estavam ativas no ano 1000 a.C.
Da papoula ao ópio: uma história milenar
“A New Vice: Opium Dens in France”, ilustração do Le Petit Journal. (Fonte: Wikemedia Commons)
Os primeiros relatos sobre a papoula datam da Mesopotâmia, no distante ano de 3400 a.C. Já seu uso como narcótico foi mapeado por arqueólogos por volta de 1600 a.C. Pequenos frascos no formato de cápsulas foram encontrados naquela região.
Através de um artigo na revista Science, no ano de 2018, mostrou-se que pesquisadores conseguiram confirmar que elas eram utilizadas com ópio, mas também com outras substâncias psicoativas. Até nas tumbas egípcias já se encontraram resíduos de drogas alucinógenas.
Quando a tumba do faraó Tutancâmon foi aberta em 1922, os arqueólogos viram que o corpo do rei estava encoberto de flores de nenúfar azul, uma planta que era comumente pintada nos sarcófagos. Quando era embebida em vinho, esta planta produzia um sedativo que causava uma ligeira euforia.
Relação com a droga seria mencionada em poema épico
(Fonte: Harry Burton/Wikimedia Commons)
A proximidade dos egípcios com as drogas não foi considerada exatamente uma surpresa, uma vez que a papoula era bastante cultivada no Egito. O extrato da planta foi chamado de “Opium Thebiacum”, em homenagem à cidade de Waset (conhecida pelos gregos como Tebas).
Tratando-se dos gregos, há inclusive sugestões de que o ópio teria sido citado na Odisseia de Homero. Em certo trecho do clássico poema épico, Helena de Troia dopa um vinho com uma droga.
No trecho, lê-se que a droga “tirou lembranças poderosas” e que os que consumiram a bebida “não puderam derramar uma lágrima mesmo com a morte de um de seus pais”. Segundo os pesquisadores, haveria, aqui, menção implícita a uma substância capaz de alterar a consciência, possivelmente o ópio.
Não por acaso, as divindades gregas Hipnos (deus do sono) e Tânatos (deus da morte) foram muitas vezes representados com buquês e coroas de flores cheias de papoulas. Tudo isto traz pistas que os povos ancestrais também conheciam estas substâncias e seus poderes.
A preocupação com substâncias alucinógenas
(Fonte: Wikimedia Commons)
Há também registros de médicos e pensadores de civilizações antigas já revelando preocupação com questões como overdose. O escritor grego Dioscórides deixou escritos sobre o cultivo do ópio, mas também alertou sobre os riscos do uso exagerado do narcótico.
De fato, há dados que mostram que muitos romanos compravam a droga com razões bem específicas. Os historiadores contam que muitos idosos doentes optavam pelo suicídio, e usavam o entorpecente para dar uma “mãozinha”. Ainda que ele fosse tido como um sonífero comum, já se sabia que uma dose elevada levaria a uma morte rápida e indolor.
Os romanos também criaram uma espécie de vinho feito à base do tóxico e produziram uma bebida a partir das folhas de papoula. Além disso, a droga era vendida em mercados romanos. Na cidade de Roma, por exemplo, havia varejistas que a comercializavam a poucos passos da Via Sacra.
Consta-se que a cidade de Cápua tinha uma área conhecida ocupada por comerciantes de substâncias alucinógenas. O termo “seplasia”, que se referia a todo tipo de droga capaz de alterar a mente – envolvendo aqui até perfumes e cremes -, surgiu a partir disso. A palavra se tornou tão comum que chegou a aparecer em um escrito do filósofo romano Cícero.
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