Por Rafael Ataíde

Aproveitando a onda do mês de abril, que começa no Dia da Mentira, me peguei pensando nas diversas falas que ouço sobre inteligência artificial que não são lá muito verdadeiras. Afinal, todo mundo sabe muito sobre IA hoje em dia, ou é o que tentam dizer por aí.

Não digo que as pessoas estão mentindo propositalmente a torto e a direito. Frequentemente, escuto suposições ou exageros naturais para quem não está inserido constantemente no mundo da tecnologia. IA é uma novidade que está tomando o mundo com muita velocidade, então é compreensível que algumas informações acabem cruzadas e que o público fique confuso.

O problema é estufar o peito para afirmar algo como verdade absoluta sem ter o conhecimento para sustentar isso. Aí arrisca-se espalhar desinformação, um perigo já extremamente comum no mundo atual. Não precisamos colaborar ainda mais para isso.

Portanto, listo aqui algumas dessas afirmações sobre IA e explico por que, por mais que pareçam verossímeis, elas deveriam ser apenas brincadeiras de 1º de abril.

“Criei minha própria IA”

Esse é um clássico que vem tanto de profissionais quanto de empresas, normalmente relacionado à criação de chatbots. Na imensa maioria dos casos, o que aconteceu foi o uso de uma API, ou até o desenvolvimento de uma interface personalizada, mas a IA mesmo é externa.

Não que a solução não seja útil ou importante para o negócio. É só que fazer uma inteligência artificial do zero é bem mais complicado. Não é à toa que as big techs investem bilhões nisso: são cientistas, pesquisadores, desenvolvedores, para não falar em uma estrutura física e de dados ultra robusta.

A boa notícia é que você não precisa ter criado sua própria IA. Essas tecnologias estão aí para serem usadas, e se você soube aplicá-las estrategicamente, já está à frente de muitos concorrentes!

“Trabalhar com IA é só glamour”

Talvez pareça, para quem vê de fora. Talvez exista essa imagem de que podemos pedir tudo para a IA, sentar e tomar um café enquanto ela trabalha. Pode ser que o futuro nos leve até esse cenário, mas, por enquanto, estamos longe disso.

Modelos de IA atuais não são 100% confiáveis, o que significa que toda informação exige checagem, o que é um trabalho demorado e humano. Às vezes, a pipeline — sequência de operações da IA — quebra, e o trabalho pode ser perdido ou corrompido. E, acima de tudo isso, também temos que lidar com clientes que acreditam que tecnologia é o mesmo que mágica, exigindo avanços impossíveis. Sinceramente, não é muito glamouroso, não.

“Se está no relatório da IA, é verdade”

Sabe o que acabei de falar sobre modelos não serem totalmente confiáveis? Leia de novo. E de novo. É um perigo real que as pessoas acreditem cegamente no que a IA diz, pois pode levar a uma tomada de decisões danosa, tanto no âmbito profissional quanto pessoal.

Os dados nos quais a inteligência artificial se baseia para gerar um insight podem tornar a resposta enviesada. Por exemplo, na hora de gerar uma previsão financeira para uma empresa, a IA pode calcular um crescimento desproporcional porque aprendeu a partir de um trimestre que foi fora da curva e dificilmente se repetirá. Além disso, muitas IAs “alucinam”: inventam informações quando não possuem a resposta adequada ou quando o prompt as confunde.

“A IA vai tirar nossos empregos”

Essa você também deve ter ouvido. Dá para falar que é inteiramente mentira? Não, mas também não dá para falar que é verdade. Ao longo da história da humanidade, algumas tecnologias de fato mudaram o mercado de trabalho, encerrando alguns cargos e criando outros. Mas também não foi o caso todas as vezes.

O Excel, por exemplo, não acabou com os contadores, só se tornou uma ferramenta indispensável para eles. O Photoshop e outros softwares da Adobe tiveram a mesma relação com designers. E o Google certamente não matou os professores, mesmo sendo uma fonte inesgotável de informação.

A inteligência artificial é novidade, mas não precisa ser mitificada. Quanto mais conhecimento sobre ela você tiver, melhor para sua carreira e sua empresa. Não esqueça que sempre há mais a aprender e descobrir; eu com certeza estou aprendendo todos os dias, inclusive para separar verdades de mentiras.

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Com experiência em inteligência artificial e neuromarketing, Rafael Ataide já passou pela gestão de e-commerces, estratégias de CRM marketing e implementação de algoritmos de machine learning em empresas multinacionais. Hoje está à frente do Hub de Data & Tech da Adtail como diretor, promovendo inovações e uso de I.A. para facilitar o dia a dia da operação e do cliente.

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