Recentemente, um dos filmes mais aguardados do ano por mim chegou aos cinemas e, é claro que logo comprei meu ingresso para assistir nas telonas. Entrando na sessão (longe de estar lotada), avistei alguns poucos grupos e duplas de amigos que estavam conversando durante os trailers.
Já nos primeiros minutos do filme, alguns cochichos e brilho altíssimo de telas de celular chamavam atenção pela sala. Ao longo do filme, porém, as conversas paralelas aumentaram e, pasme, um flash foi disparado na direção da tela. No final, as duas horas que deveriam ser muito bem aproveitadas no cinema, foram prova de resistência para qualquer um que realmente queria assistir o longa.
Bom, felizmente, a minha experiência mais recente ainda foi branda se comparada a de outras pessoas Brasil afora. Isso porque não é difícil encontrar relatos de pessoas que vão ao cinema e passam por situações parecidas ou muito piores do que essa.
Trago aqui um exemplo super recente: pessoas estão sendo retiradas das sessões de Um Filme Minecraft em todo o mundo após uma “brincadeira” começar a viralizar no TikTok. Trata-se de uma trend em que a plateia grita “Chicken Jockey!” em determinada cena do longa, em referência ao game.
O que poderia ser apenas uma experiência coletiva muito divertida, no entanto, pode estar ganhando proporções maiores, com algumas situações saindo do controle, como aconteceu no vídeo abaixo:
Para evitar cenas como essa no futuro, algumas redes de cinema já estão até mesmo emitindo notas se posicionando contra essas reações exageradas.
“Qualquer forma de comportamento antissocial, especialmente qualquer coisa que possa perturbar outros hóspedes, como gritos altos, palmas e berros, não será tolerada. Qualquer pessoa flagrada agindo dessa maneira será removida da sessão e não terá direito a reembolso”, escreveu a rede de cinema Cineworld.
No caso de Um Filme Minecraft, ainda é possível alegar que o público seja formado, principalmente, por crianças e adolescentes. Porém, este não é um caso isolado.
De uns anos pra cá, tem ficado cada vez mais comum encontrar relatos na internet sobre experiências ruins nas salas de cinema: conversas de um lado, luz de celular do outro, casal em amasso atrás ou as novas trends das redes sociais na frente. Mas por que, afinal, as pessoas perderam a capacidade de assistir a filmes em salas de cinema? O que mudou dos últimos anos?
O streaming “estragou” a experiência dos cinemas?
Já não é novidade que a era do streaming chegou trazendo uma série de facilidades e conforto para as pessoas. Para começar, não é mais preciso esperar tanto tempo para assistir a um filme recém-lançado nos cinemas. Isso porque as lojas de venda e aluguel de filmes ganharam força desde a pandemia.
Até mesmo no catálogo oficial dos streamings é possível encontrar filmes bastante recentes sem acréscimo no valor da assinatura. Produções da Warner Bros. e da Disney, por exemplo, demoram em média de dois a três meses para chegarem no catálogo da Max e do Disney+ após a estreia nos cinemas – a depender do desempenho nas bilheterias, é claro.
E o melhor disso tudo: precisa ir ao banheiro, pegar algo para comer ou qualquer outra coisa – que seria um inconveniente no cinema? É só pausar, no seu tempo. Bom, com isso em mente, fica claro que a pandemia e, consequentemente, a expansão do streamings foram alguns dos agravantes da crise nos cinemas.
Uma curiosidade é que um tempo atrás tinha gente culpando até mesmo a Marvel. Em entrevista à revista Variety, um executivo de cinema (que não teve seu nome revelado) falou sobre o assunto e declarou dois culpados: a pandemia e… Deadpool e Wolverine.
“Algo aconteceu depois da pandemia em que o comportamento no cinema realmente mudou. Os jovens têm uma relação diferente com o material, é tudo conteúdo para eles. Algo realmente aconteceu a partir de Deadpool e Wolverine”, disse, se referindo à época de lançamento do filme da Marvel. Isso porque, durante a divulgação, tanto o diretor Shawn Levi quanto Ryan Reynolds repostavam os stories de influenciadores e fãs gravando cenas do filme na sala de cinema. O movimento fez com que mais pessoas fizessem o mesmo.
O diretor do longa até se pronunciou, comentando que não foi sua intenção ao repostar os posts.
A verdade é que o culpado não é o diretor ou muito menos o filme. A grande questão aqui é que a retomada às salas de cinema após a pandemia parece ter trazido um público desacostumado a viver em comunidade e a compartilhar o espaço público.
Efeito dominó
O comportamento impróprio nas salas de exibição pode não apenas atrapalhar a experiência de terceiros que também pagaram pelo ingresso, mas também a própria indústria do cinema.
Pode parecer exagero, mas pense comigo: se o ato de ir ao cinema se torna sinônimo de estresse, distrações e incômodos, o público simplesmente deixa de ir. E isso tem consequências diretas nas bilheteiras.
A partir do momento em que as pessoas passam a associar a ida ao cinema a uma experiência desagradável, elas migram — ainda mais — para os streamings, que oferecem conforto, silêncio e controle total. O resultado? Salas cada vez mais vazias, lucros menores para redes exibidoras e uma ameaça concreta à viabilidade de filmes mais autorais ou produções que não têm o apelo de grandes blockbusters.

Isso porque, sem público, esses filmes deixam de ser exibidos em larga escala e a diversidade no cinema vai, aos poucos, sendo sufocada. Afinal, se só vale a pena manter em cartaz aquilo que lota salas no fim de semana de estreia, né?
Ressalto aqui que não estou sugerindo que o cinema é um lugar para se assistir a um filme sozinho ou em posição de estátua. Ele é, por essência, uma experiência partilhada. Mas, para funcionar, é necessário que cada um faça sua parte. O problema é que talvez estejamos lidando com uma geração que desaprendeu a dividir e respeitar o espaço público.
E você, tem notado a mudança de comportamento (para pior) do público nos cinemas? Comente nas redes sociais do Minha Série! Estamos no Threads, Instagram, TikTok e até mesmo no WhatsApp. Venha acompanhar filmes e séries com a gente!
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