A prática da agricultura surgiu há cerca de 12 mil anos e foi responsável por diversas transformações na sociedade, inclusive no nosso modo de falar. As alterações na dieta alimentar contribuíram, por exemplo, para a capacidade de pronunciar as consoantes labiodentais, como os sons produzidos pelas letras “F” e “V”.

Isso começou com a mudança para alimentos mais macios e processados, levando à diminuição dos desgastes nos dentes e ao crescimento das mandíbulas, resultando em sobremordidas nos adultos. Comuns em crianças, essas sobremordidas foram essenciais para a pronúncia das labiodentais, segundo especialistas.

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A mudança na alimentação cm o início da agricultura afetou a mordida. (Imagem: Getty Images)

Em um estudo de 1985, o linguista Charles Hockett sugeriu que a ausência desse tipo de consoante na linguagem dos antigos caçadores-coletores era, em parte, causada pela mastigação de alimentos fibrosos e arenosos, desgastando os molares. Dessa forma, eles possuíam uma mordida de ponta a ponta, que dificultava a pronúncia de certas letras.

Testando as ideias de Hockett, em um estudo mais recente, o linguista suíço Balthasar Bickel descobriu que a produção de labiodentais exige 29% menos esforço com uma sobremordida do que na mordida de ponta a ponta. A pesquisa também apontou a linguagem dos caçadores-coletores com apenas um quarto do número de labiodentais identificadas nas línguas das sociedades agrícolas.

Criando novas palavras

Ainda conforme Bickel, a capacidade de pronunciar palavras com “F” e “V” se expandiu nos 8.000 anos seguintes após a adoção da agricultura e de métodos de processamento de alimentos como transformar grãos em farinha. Com isso, os sons produzidos pela passagem do ar entre os dentes superiores e os lábios inferiores se tornaram comuns, possibilitando o surgimento de inúmeras palavras.

O especialista também sugere que a presença de labiodentais nas línguas era um sinal de status na Roma e na Índia antigas, pois indicava que aquelas pessoas tinham acesso a uma dieta mais suave. Atualmente, essas consoantes estão presentes em 76% das línguas indo-europeias.

Mas se a sobremordida alterou os sons da fala, a perda da mordida de ponta a ponta trouxe alguns problemas. Com a mudança, as mandíbulas inferiores ficaram mais curtas e o apinhamento dental se tornou comum, da mesma forma que as cáries, como afirma a pesquisa.

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