“Nenhum homem são desejaria o papado. Os homens perigosos são os que o querem.” O conclave, evento tradicional da Igreja Católica para a escolha de um novo papa, é historicamente conhecido por seu sigilo. Nele, cardeais de todo o mundo vão para o Vaticano e se reúnem a portas fechadas, sem nenhum contato com o mundo exterior até terem o nome do novo pontífice, anunciado com uma fumaça branca saindo da Capela Sistina.
E em Conclave, um dos longas indicados ao Oscar de Melhor Filme este ano, o diretor Edward Berger coloca em nossas cabeças uma ideia de como as coisas podem acontecer em uma das eleições mais famosas do mundo.
O cardeal Lawrence precisa de ajuda divina
O longa acompanha os dias do cardeal Lawrence (Ralph Fiennes), responsável pela organização do Conclave, em uma jornada cheia de intrigas, estratégias e descobertas inesperadas entre os cardeais de todo o mundo reunidos no Vaticano.
Divididos entre os conservadores e os mais progressistas (como o Papa falecido), os padres convivem, votam, expõem as próprias opiniões como julgam melhor e, em alguns casos, torcem para segredos do passado não serem trazidos à tona. A questão é que, como organizador do conclave, o cardeal Lawrence precisa descobrir se os colegas cotados a ser o novo Santo Padre são bons o suficiente para o cargo que lidera uma das instituições mais poderosas do mundo: a Igreja Católica.
Isso tudo acontece enquanto ele também articula com seus aliados uma forma de fazer o seu candidato, o cardeal Bellini (Stanley Tucci), chegar mais perto do resultado positivo. Ele disputa, principalmente, com os cardeais Tremblay (Joseph Lithgow), Adeyemi (Lucian Msamati) e Tedesco (Sergio Castellitto). Além de todas as caras conhecidas, o cardeal Benitez (Carlos Diehz), um mexicano que exerce a vocação no Afeganistão, chega de surpresa no início do conclave mesmo sendo desconhecido por todos os outros — e se torna bem importante para a trama.
O jogo de estratégias se desenrola com uma série de problemáticas que vão sendo descobertas e resolvidas ao longo do filme. O plot twist do final te faz sair do cinema pensando muito sobre o que acabou de acontecer, mas depois do choque inicial há quem possa se perguntar sobre sua necessidade ou forma de se desdobrar. É, inclusive, um choque que não tenha sido mais comentado depois da estreia nos cinemas. Ainda assim, o conjunto da obra tem tudo para agradar até os mais exigentes entre os amantes da sétima arte.
Ralph Fiennes é o grande destaque de Conclave
Indicado ao Oscar de Melhor Ator, Ralph Fiennes dá vida a um cardeal Lawrence inteligente, articulado e diplomático, que acredita nas próprias convicções e nos faz acreditar junto sem a necessidade de cenas extremamente emocionantes para isso. Ele é grande parte do que nos faz não perceber o tempo passar enquanto assistimos às intrigas entre os padres mais importantes do mundo, seja nas cenas em que está sozinho com seus próprios dilemas ou nos momentos em grupo. Mas, neste caso, também vale dizer que o resto do elenco não fica para trás.
Isabella Rossellini, indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, deixa uma marca inconfundível nas poucas cenas em que a Irmã Agnes tem destaque: a da mulher que, mesmo em um espaço em que deveria ser invisível, sabe mais do que muitos outros homens “poderosos” (e é muito melhor que eles por isso). Stanley Tucci faz bem tudo o que lhe é proposto e em Conclave mostra — junto com seus colegas — o que muitos atores falham em fazer: a serenidade da atuação sem palavras.
Mas em um ano em que um dos filmes indicados na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira se envolveu em tantas polêmicas graças à habilidade do elenco principal em falar em um idioma que não fosse inglês, o de Conclave merecia um prêmio à parte.
Indo do inglês para o espanhol, o italiano e, até mesmo, o latim, eles conseguiram manter a naturalidade das falas e fizeram quem assiste acreditar que eram fluentes em todas as línguas — e sem precisar mudar a origem dos personagens para isso.
Em fotografia e trilha sonora, Conclave mostra por que é um filme digno do Oscar
Além das atuações impecáveis, a história é contada por meio da trilha sonora perfeitamente executada. Ela dá apoio às diferentes cenas e também ajuda a prender a atenção: eu mesma não esperava que ficaria com os olhos grudados na tela por duas horas seguidas, sem me distrair comigo mesma.
Junto à trilha, a construção da narrativa também é feita por meio da fotografia com excelência. Em tempos de celulares sendo usados tranquilamente em salas de cinema, este é outro ponto que ajuda a manter a concentração: não vi nenhuma luz sendo acendida aleatoriamente nas duas horas de filme.
Ainda que não seja possível gravar ou fotografar na Capela Sistina real, a representação construída em estúdio para o longa e as outras locações usadas nas cenas, como o Palácio Real de Caserta, deram tudo o que a direção de fotografia precisava para trazer à vida o roteiro das cenas dramáticas em cenários opulentos e elegantes, mas que em alguns momentos também pareciam uma prisão.
A grandiosidade das locações capturadas em planos abertos em contraste com os cardeais mostra uma das realidades dos conclaves: que a decisão de algo massivamente importante, que interfere na vida de milhares de pessoas, fica nas mãos de poucos e privilegiados homens. Cheios de falhas, dispostos a fazer e desfazer alianças para conseguir a vitória do lado com o qual se identificam mais, tidos como santos pelo mundo, mas nem tanto dentro das paredes sigilosas que abrigam a votação.
Ainda assim, eu não achei que a história dos padres poderia ser tão interessante — e se tornou uma das minhas preferidas na temporada. 10/10 para o drama político!
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