A sétima temporada de Black Mirror estreou na Netflix com episódios dolorosos, mas também trazendo uma história emocionante. O quinto capítulo, intitulado Eulogy, apresenta uma das narrativas mais sensíveis da produção, trocando a crítica tecnológica ácida por uma história de reconciliação emocional.

Escrito por Charlie Brooker em parceria com a dramaturga Ella Road, o episódio foca em Phillip (interpretado magistralmente por Paul Giamatti), um homem solitário que é convidado a participar de um velório imersivo através de uma tecnologia chamada Eulogy. A proposta é simples: reconstruir uma homenagem a alguém falecido por meio de memórias visuais — mas o que se desenrola é um processo profundo de autoconhecimento, arrependimento e perdão.

A seguir, confira mais detalhes sobre tudo que acontece no episódio e entenda o significado do seu final emocionante.

Black Mirror mostra fotos ganhando vida e velório imersivo

A jornada de Phillip começa quando ele recebe um telefonema inesperado de Kelly Royce (Patsy Ferran), filha de sua ex-namorada Carol. Ela informa que Carol faleceu recentemente, e a família está usando a tecnologia de uma empresa chamada Eulogy para criar um velório interativo baseado em lembranças dos amigos e entes queridos da falecida.

Phillip aceita participar e recebe uma caixa contendo um dispositivo que permite “entrar” em fotografias antigas e revisitá-las em primeira pessoa, com a ajuda de um guia de IA que assume a forma da própria Kelly — um detalhe que ele ignora por ter pulado a introdução do aparelho. O objetivo é relembrar o rosto de Carol para garantir mais imersão durante a cerimônia.

Uma narrativa manchada por dor

O problema é que ele possui apenas três fotos em mãos, todas propositalmente incompletas, já que ele havia riscado ou danificado o rosto de Carol em todas as outras. Com isso, para tentar lembrar do rosto de sua ex-amada, Phillip mergulha em suas memórias com uma narrativa distorcida pelos anos e pela mágoa.

Inicialmente, ele pinta um retrato negativo de Carol, como alguém que o feriu e o abandonou. Mas, conforme o episódio avança, ele é forçado a confrontar versões alternativas dos mesmos momentos, enxergando pela primeira vez as emoções e motivações de Carol. É nesse embate entre lembrança e realidade que Eulogy encontra seu ponto mais comovente.

Phillip estava errado em Eulogy?

O episódio caminha com sutileza entre a reconstrução das lembranças e a desconstrução da narrativa que Phillip contou a si mesmo por 15 anos. A tecnologia da Eulogy permite que ele entre em fotos e reviva momentos marcantes ao lado de Carol, vendo que nem sempre a narrativa que ele via estava correta.

À medida que revisita o passado, Phillip começa a perceber que suas memórias estavam distorcidas pela dor. Em um Halloween de 1991, por exemplo, ele dizia que Carol o ignorou, mas a IA aponta que ela, na verdade, estava desconfortável com outro homem e tentando se afastar.

Em outro momento, ele se lembra de ter voado até Londres para pedi-la em casamento, apenas para ser rejeitado friamente. Só mais tarde, com a ajuda do guia, ele descobre a verdade: Carol estava grávida de Kelly, fruto de um deslize cometido em um momento de raiva após saber da traição de Phillip com uma colega de trabalho.

Phillip estava com a filha de Carol o tempo todo

A grande revelação do episódio é que o guia da Eulogy, com quem Phillip compartilhou momentos tão íntimos, é um avatar gerado a partir da própria filha de Carol. Ele pulou a introdução do dispositivo, e por isso não sabia que estava, de certa forma, se conectando com a filha da mulher que tanto marcou sua vida.

Ao descobrir isso, Phillip confronta a dor de ter perdido não só um grande amor, mas também a chance de compreender suas ações à época. Em uma cena poderosa, ele encontra entre seus pertences uma carta escrita por Carol, nunca lida por conta de sua pressa e raiva. Nela, Carol explicava tudo — incluindo o convite para vê-la novamente, que ele nunca atendeu.

Final emocionante de Eulogy

O encerramento de Eulogy é profundamente comovente. Phillip finalmente escuta uma gravação de Carol tocando uma música composta por ela, e permite que a lembrança do rosto dela finalmente volte à tona — limpa, nítida e sem rancor.

Depois, ele vai ao funeral, onde troca um olhar silencioso e carregado de significado com a verdadeira Kelly, que inspirou a IA que o acompanhou em toda a jornada. Nesse momento, ele parece fazer as pazes com o passado e com a versão de Carol que havia apagado durante tantos anos.

O que Eulogy quer dizer sobre memória, luto e inteligência artificial? Entenda final

Mais do que uma história de amor mal resolvido, Eulogy é um episódio sobre como recontamos nossas próprias histórias. A proposta da tecnologia não era manipular ou alterar memórias, mas permitir que elas fossem revisitadas com mais compaixão — uma característica que a IA guia demonstra a todo momento.

Para Charlie Brooker, criador da série, o ponto central está na mudança de perspectiva: “Phillip transformou Carol em uma vilã dentro da própria mente. No fim, ele percebe que não se permitiu enxergar o que ela estava passando”, explicou o criador em entrevista ao Tudum, site da Netflix.

Já a atriz Patsy Ferran, que interpreta tanto Kelly quanto o avatar digital, comentou que a história é um lembrete de que errar é parte da experiência humana, e que a tecnologia, quando usada com sensibilidade, pode nos ajudar a sermos mais empáticos. Paul Giamatti, por sua vez, disse que o episódio mostra como a IA pode ter um papel positivo em ajudar alguém a lidar com o luto: “Ela não força Phillip, mas guia ele para um entendimento mais humano do que viveu.”

A inspiração real por trás do episódio

A inspiração para o episódio veio de uma experiência pessoal de Brooker ao montar o velório de seu pai, recentemente falecido. Ao buscar fotos antigas, ele percebeu o valor emocional de registros imperfeitos e analógicos, que carregam memórias reais e imprecisas.

Com essa história, o episódio também nos faz refletir sobre a importância de guardar registros de pessoas que amamos, seja em retratos analógicos ou com as imagens “perfeitas” e infinitas que tiramos hoje com smartphones.

Eulogy é, nesse sentido, um tributo não só à memória dos que partem, mas também à possibilidade de nos reconciliarmos com as partes que deixamos para trás. E aí, qual foi sua interpretação do episódio?

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