Na década de 1870, o explorador Heinrich Schliemann partiu em direção às ruínas do sítio arqueológico em Hisarlik, na Turquia, para fazer seu nome na arqueologia. Disposto a descobrir todos os segredos sobre a, até então, desconhecida Troia, o alemão iniciou escavações na região para saquear um tesouro ainda mais antigo, quase vendo seus planos de contrabando destruírem todos os vestígios da lendária cidade asiática.

Filho de um ministro pobre, em 1846 Schliemann se mudou de Amsterdã para São Petersburgo, na Rússia, de modo a trabalhar como correspondente e guarda-livros. Um ano depois, ele tornou-se um proeminente empresário e já dominava nove idiomas além da sua língua natal, ocupando-se com empreendimentos comerciais que iam desde o negócio de índigo até a revenda de pó de ouro a contratos militares durante a Guerra da Crimeia.

(Fonte: Smithsonian Magazine/BPK/Reprodução)(Fonte: Smithsonian Magazine/BPK/Reprodução)

Porém, foi apenas em sua aposentadoria que o alemão decidiu investigar as origens de Troia. Após relatos de Homero serem amplamente debatidos por historiadores, Schliemann partiu para as distantes terras e buscou, por conta própria, averiguar se “os personagens descritos por Homero eram baseados em pessoas reais ou eram tão míticos quanto os deuses gregos”.

Determinado, Schliemann chegou a Hisarlik em 1868 e se juntou ao arqueólogo amador Frank Calvert para realizar uma extensa escavação na área. Após quase dois anos de preparações, eles finalmente começaram a trabalhar e cavaram cerca de 13 metros de profundidade, vasculhando camadas de solo sem se preocupar em obter uma licença das autoridades locais. 

Ao todo, o explorador recuperou colares, diademas, broches, armas e outros tesouros datados de muito antes da Guerra de Troia — que aconteceu em torno de 1200 a.C. —, sem saber que os danos causados durante o processo poderiam ser irreversíveis.

Troia foi encontrada. Mas a qual custo?

Desenho de Heinrich Schliemann e sua esposa expondo antiguidades troianas em Berlim, em 1882. (Fonte: Staatliche Museen zu Berlin/Museum für Vor- und Frühgeschichte)Desenho de Heinrich Schliemann e sua esposa expondo antiguidades troianas em Berlim, em 1882. (Fonte: Staatliche Museen zu Berlin/Museum für Vor- und Frühgeschichte)

Troia estava localizada algumas camadas acima do ponto máximo da escavação e teve seu sítio arqueológico descoberto por Schliemann, ao lado de várias cidades construídas em sucessão e dispostas pela Anatólia. Porém, o saque de incontáveis peças do tesouro de Príamo — rei de Troia durante a guerra e filho de Laomedonte — trouxe muitos prejuízos ao local e exigiu uma longa caça aos itens desaparecidos.

As autoridades processaram legalmente o empresário por furto e contrabando, demandando a devolução dos vestígios e impedindo o explorador a retornar ao local da escavação. Schliemann entregou as peças de menor valor — sem conhecimento dos especialistas — e pôde retornar ao sítio arqueológico, mas acabou sofrendo um colapso em 25 de dezembro de 1890, enquanto desbravava a camada Troia II.

(Fonte: Staatliche Museen zu Berlin/David von Becker)(Fonte: Staatliche Museen zu Berlin/David von Becker)

Ao todo, mais de 10 mil peças foram coletadas e armazenadas no Museu de Arqueologia de Istambul e no Museu Pushkin em Moscou. Após a morte de Schliemann, as escavações em Hisarlik ficaram a mando de Wilhelm Dörpfeld, que identificou um total de nove camadas e confirmou a destruição total da cidade ao fim da guerra.

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